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​Descobri um câncer na próstata. O que devo fazer? Vou perder a ereção?

Não necessariamente a sua ereção será perdida, mas a cirurgia para a remoção de um câncer na próstata (seja por via convencional, laparoscópica ou robótica) ou mesmo o tratamento não cirúrgico (radioterapia ou braquiterapia) pode trazer prejuízo à ereção e à saúde sexual como um todo. 
 
As causas mais relevantes para este impacto negativo são o trauma ou a lesão aos nervos cavernosos (fenômeno comumente observado após a cirurgia) e a deficiência de suprimento sanguíneo e de oxigenação ao tecido erétil do pênis, podendo resultar num processo de fibrose deste tecido em diferentes graus de extensão. 
 
Isto explica também a queixa relatada por alguns homens de deformidades penianas (tortuosidade, redução aparente do tamanho) após a cirurgia radical da próstata.
 
O avanço da técnica operatória e a adoção da cirurgia poupadora de nervos nos últimos anos se acompanhou de uma melhora nos índices de preservação da função erétil.
 
O conceito de vigilância ativa para o tratamento dos pacientes que têm baixo risco de progressão da doença trouxe uma perspectiva de minimizar os potenciais efeitos adversos associados ao tratamento do câncer na próstata, especialmente na função erétil.
 
Vamos aos números. Para fugir dos “achismos” e das estatísticas subjetivas, usarei os dados do Prostate Testing for Cancer and Treatment (ProtecT)1, um estudo bastante relevante no meio médico e científico, e que obedeceu rigorosos critérios metodológicos.
 
Nesse estudo, 1643 pacientes foram randomicamente selecionados para tratamento cirúrgico (prostatectomia radical), radioterapia ou vigilância ativa e posteriormente acompanhados por um período de 6 anos.
 
As funções erétil e sexual foram avaliadas através de questionários validados para estes fins, respondidos pelos próprios pacientes. Antes do tratamento, 67% dos homens relataram ter ereções adequadas para o intercurso sexual.
 
Após 6 meses, uma nova avaliação mostrou que este índice caiu para 52% no grupo de vigilância ativa, 22% no grupo que recebeu radioterapia e 12% no grupo operado.
 
Isto equivale dizer que o impacto negativo na função erétil foi observado em cerca de 65 a 70%  dos homens tratados com radioterapia ou cirurgia.
 
Por outro lado, sabe-se que a recuperação da ereção pode acontecer num prazo de até 48 meses após a cirurgia e é extremamente importante a adoção precoce de medidas clínicas com o objetivo de restabelecer a ereção após a prostatectomia, evitando, assim, o processo de fibrose do tecido erétil do pênis.
 
Uma outra publicação2 reuniu dados de 15 estudos e descreve índices de disfunção erétil que variam de 6 a 68% dos homens operados por câncer na próstata.
 
E por que tanta variação nestes índices?
 
Isto acontece por que os principais fatores preditores da preservação da ereção após a prostatectomia radical são a idade do paciente, as doenças associadas que ele apresenta (diabetes, hipertensão arterial, por exemplo), a função erétil de entrada (antes da cirurgia) e a capacidade ou possibilidade de preservar o feixe vásculo-nervoso da próstata. Portanto, a habilidade e experiência do cirurgião também podem contribuir em favor da redução do impacto negativo causado na ereção.
 
É importante destacar que a disfunção erétil pode não ser a única queixa do paciente no que se refere à sua saúde sexual após o tratamento do câncer de próstata.
 
Alterações relacionadas à ejaculação, orgasmo e ao próprio desejo sexual também são prevalentes e precisam ser avaliadas e adequadamente tratadas.
 
Ao receber o diagnóstico de um câncer de próstata, é de fundamental importância discutir com o especialista a melhor forma de tratamento e as potenciais consequências na esfera urinária e sexual em cada uma das modalidades de tratamento do câncer.
 
1 - Donovan, J.L., et al. Patient-Reported Outcomes after Monitoring, Surgery, or Radiotherapy for Prostate Cancer. N Engl J Med, 2016. 375: 1425.
2 - Ficarra, V., Novara, G., Ahlering, T.E. et al. Systematic review and meta-analysis of studies reporting potency rates after robot-assisted radical prostatectomy. Eur Urol. 2012; 62: 418–430